sábado, abril 14, 2007

Trecho inicial de "Canção de Mim Mesmo", de WALT WHITMAN

de SONG OF MYSELF / CANÇÃO DE MIM MESMO

(A obra-prima de Whitman e da poesia de todos os tempos, um dos poemas mais longos da língua inglesa)






EU CELEBRO a mim mesmo,
E o que eu assumo você vai assumir,
Pois cada átomo que pertence a mim pertence a você.

Vadio e convido minha alma,
Me deito e vadio à vontade . . . . observando uma lâmina de grama do verão.

Casas e quartos se enchem de perfumes . . . . as estantes estão lotadas de perfumes,
Respiro o aroma eu mesmo, e gosto e o reconheço,
Sua destilação poderia me intoxicar também, mas não deixo.

A atmosfera não é nenhum perfume . . . . não tem gosto de destilação . . . . é
inodoro,
É pra minha boca apenas e pra sempre . . . . estou apaixonado por ela,
Vou até a margem junto à mata sem disfarces e pelado,
Louco para que ela faça contato comigo.

A fumaça de minha própria respiração,
Ecos, ondulações, zunzuns e sussurros . . . . raiz de amaranto, fio de seda, forquilha e videira,
Minha respiração minha inspiração . . . . a batida do meu coração . . . . a passagem do ar e do sangue
pelos meus pulmões,
O aroma das folhas verdes e das folhas secas, da praia e das rochas marinhas escuro-coloridas, e do feno no celeiro,
O som das palavras baforadas por minha voz . . . . palavras disparadas nos redemoinhos
do vento,
Uns beijos de leve . . . . alguns amassos . . . . o afago dos braços,
Jogo de luz e sombra nas árvores enquanto oscilam seus galhos sutis,
Delícia de estar só ou no agito das ruas, ou pelos campos e encostas de colina,
Sensação de bem-estar. . . . trinado de meio-dia . . . . a canção de mim mesmo se erguendo da cama
e cruzando com o sol.


Você pensou que mil acres eram um exagero ? Pensou que a terra um exagero ?
Já praticou bastante até aprender a ler ?
Já sentiu orgulho de entender o sentido dos poemas ?

Fique este dia e esta noite comigo e você vai possuir a origem de todos os poemas,
Vai possuir o que há de bom na terra e do sol . . . . sobraram milhões de sóis por aí,
Nada de pegar coisas de segunda ou de terceira mão . . . . nem de ver através
dos olhos dos mortos . . . . nem de se alimentar dos espectros nos livros,
E nada de olhar através dos meus olhos, nem de pegar coisas de mim,
Você vai escutar todos os lados e filtrá-los a partir de seu eu.

Ouvi o que os falantes falavam . . . . a fala do começo e do fim,
Mas não estou falando nem de fim nem de começo.

Nunca existiu mais começo do que este agora,
Nem mais juventude nem era do que esta agora ;
Nem vai existir mais perfeição do que já existe agora,
Nem mais céu ou inferno do que existe agora.

Pressa e pressa e pressa,
Sempre a pressa criativa do mundo.

Da obscuridade avançam opostos iguais . . . . Sempre substância e crescimento,
Sempre um nó de identidade . . . . sempre diferença . . . . sempre uma espécie de vida.

Inútil ficar preso nos detalhes . . . . Tanto eruditos quanto ignorantes sabem que é assim.

Certo como a certeza mais certa . . . . aprumado na vertical, bem trançado, firme nas vigas,
Forte como um cavalo, carinhoso, orgulhoso, elétrico,
Aqui estamos eu e este mistério.

[.......]



TRADUÇÃO DE RODRIGO GARCIA LOPES
,
DO LIVRO FOLHAS DE RELVA / Leaves of Grass (Iluminuras, 2004)

Um comentário:

Anônimo disse...

no meu último livro fiz uma homenagem ao camarada walt whitman...belo poeta,belo homem.