segunda-feira, maio 19, 2008

Um poema de ROBERTO BOLAÑO (1953-2003)



GODZILLA NO MÉXICO


Ouça isso, meu filho: as bombas caíam

sobre a Cidade do México

mas ninguém se dava conta.

O ar levava o veneno através

das ruas e janelas abertas.

Você tinha acabado de comer e estava assistindo

desenho animado.

Você lia no quarto ao lado

Quando soube que íamos morrer.

Apesar da tontura e da náusea me arrastei

Até a cozinha e encontrei você no chão.

Nos abraçamos. Você perguntou o que estava acontecendo

E eu disse que estávamos no programa da morte

Mas que em vez disso íamos começar uma viagem,

Mais uma, juntos, e que não tivesse medo.

Quando saiu, a morte nem sequer

Fechou nossos olhos.

O que somos?, você me perguntou uma semana ou um ano depois,

formigas, abelhas, números equivocados

na grande sopa podre do acaso?

Somos seres humanos, meu filho, quase pássaros,

Heróis públicos e secretos.





ROBERTO BOLAÑO

TRADUÇÃO: RODRIGO GARCIA LOPES

NA COYOTE 17

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