terça-feira, outubro 28, 2008

A PALAVRA BRANCA DE LAURA RIDING



POETA: PALAVRA MENTIROSA




Você chegou comigo, eu cheguei com você, à estação que devia ser inverno, e não é: não retornamos.

Não retornamos: não voltamos ao começo: nem nos movemos. Eu levei você, você me levou, ao próximo e próximo espaço de tempo e ao último — e é o último. Fique contra mim, então, e encare e olhe bem através de mim, então. Não é muro algum para ser escalado e deixado para trás como as velhas estações, como os poetas que eram as estações.

Fique contra mim, então, e encare e olhe bem através de mim, então. Não sou nenhum poeta como você que tem a cada espaço de tempo saltado as altas palavras rumo a próxima profundidade e estação, sempre a próxima estação, sempre a última, e a próxima. Eu sou um muro de verdade: só lhe resta olhar bem através de mim.

É um muro falso, um poeta: é uma palavra mentirosa. É um muro que fecha e não se fecha.

Isto não é nenhum muro que fecha e não se fecha. É um muro pra se olhar dentro, não é nenhuma outra alta temporada. Além dele não existem altos e baixos de mais viagens, sem meio do caminho. Fique contra mim, então, e encare e olhe bem através de mim, então. Como muro de poeta fico, embora não seja um poeta como um muro sendo erguido entre o próximo e próximo vão e tornados falsos e intransponíveis. Enfim, sou um muro de verdade: só lhe resta olhar bem através de mim.


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Trecho inicial de poema de Laura Riding, em Mindscapes (Iluminuras, 2004)

Tradução: Rodrigo Garcia Lopes

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