terça-feira, abril 10, 2012

Dois poemas de Estúdio Realidade no caderno Ilustríssima - Folha de S. Paulo

Domingo a Folha de São Paulo publicou dois poemas inéditos (que saem em agosto pela editora Iluminuras ) no caderno Ilustríssima. Estes dois fazem parte da última seção do livro Estúdio Realidade, chamada "Quarto Fechado".





Índice geral São Paulo, domingo, 08 de abril de 2012Ilustrissima
Ilustrissima
Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros
Imaginação
PROSA, POESIA E TRADUÇÃO RODRIGO GARCIA LOPES


ROMANCE POLICIAL


A lanterna da lua banhava o morto.
No rosto do detetive, nenhum sopro
A não ser o ar pesado do mangue, o corpo
Caído, espesso sangue, e o pouco
Dito pelo policial com cara de mau
Que agora segurava um castiçal
Interrogando a loira de olhos negros
Que trabalhava para um restaurante grego
Da grana e dos bilhetes estranhos no porta-luvas,
Do estranho esgar de sorriso, do sangue em sua luva.
E antes que a canção no rádio acabe
Ele diz: "Para salvá-la, só um milagre".
Nas mãos, a carta rasgada ao meio, garrafa de uísque
Pela metade. Mas ainda é cedo para que ele se arrisque.
Nada ficou claro nos depoimentos, de como essa sereia
Foi encontrada pela estrada à lua cheia:
"Do que não se pode falar, deve se calar",
Ela disse, bem no momento dele virar
E ser beijado por seus lábios fatais.
A lua aumentava seus cristais.
Seguiu-se um minuto de silêncio
E os grilos pontuavam um indício. Ela disse:
"As pistas estão em toda parte, em seu diário,
No dia dezesseis em vermelho no calendário".
Enquanto o detetive revistava a lua
A loira derramou uma poção branca na sua
Garrafinha de uísque. "Nessa profissão, é preciso jeito
Para resolver este quase crime perfeito".
Ela não dizia nada, ou quase nada, só o olhava
Sabendo que a verdade estava em cada palavra.
A esta altura, tudo parecia bem nítido
E agora ele a forçava a beber o líquido.




QUARTO ESCURO


O detetive avança pela desordem do estúdio.
A mobília está calada como testemunha.
Lá fora folhas se reviram, se estudam.

O telefone calado como um caramujo.
Um ano depois e todas as pistas
Deram em becos sem saída e luto.

"Nada disso está acontecendo, escuto
meus próprios passos sobre o escuro.
Dois gatos negros transando num muro."

E o criminoso ali perto,
pronto para revelar quase tudo.
E na pequena floresta da biblioteca

O verde é um código secreto.
O detetive deita e cai num sono profundo.
E a carta o tempo todo sobre o criado-mudo.
 


RODRIGO GARCIA LOPES
 
SOBRE OS POEMAS Os dois poemas aqui publicados fazem parte da coletânea "Estúdio Realidade", que Rodrigo Garcia Lopes lançará no segundo semestre, pela Iluminuras. O autor prepara também o lançamento de seu primeiro romance policial.

Nenhum comentário: