sexta-feira, outubro 03, 2014

"O TROVADOR" NO SÃO PAULO NEWS

‘Pequena Londres’ é palco do primeiro romance de Garcia Lopes

The Burney
Por Redação *

Poeta e tradutor experiente de autores como Sylvia Plath e Walt Whitman, Rodrigo Garcia Lopes estreia no romance com O Trovador, narrativa de gênero polícia que remonta, ficcionalmente, ao período de colonização do Norte do Paraná, mais especificamente, na “fase inglesa” de Londrina.

A “Pequena Londres”, uma Babel erguida a partir dos anos 1930 em função da atividade e dos interesses econômicos da empresa britânica Parana Plantations Limited, é palco de um mistério que envolve figuras históricas e se desdobra em crimes aparentemente sem solução.

Uma canção trovadoresca paira sobre a trama como a poeira vermelha se levanta na região. Como sempre há algo de detetive no ofício de um poeta e de um tradutor, caberá a Adam Blake, tradutor e intérprete escocês, a solução dos enigmas.

Leia, abaixo, trecho do romance:


 — Companhia de terras? – perguntou.
Blake fez que sim.
— Da Inglaterra?
Blake balançou de novo a cabeça.
— Bem-vindo ao fim do mundo… Vai ver em que bela porcaria de cidade o senhor veio parar.
Blake riu.
— Não pretendo ficar muito tempo. Só vim resolver algumas coisas.
— É o que todos dizem. O jeito é se divertir. — A moça arrumou a mecha negra sobre os olhos e concluiu: — Bom, todo mundo é meio estrangeiro. A cidade é nova demais. O senhor fala português muito bem. O que faz da vida?
— Sou tradutor.
A moça continuou sustentando o olhar em direção a Blake. Parecia não ter entendido.
— Eu traduzo o que as pessoas falam ou escrevem — explicou Blake.
Ela deu uma tragada, soprando a fumaça para o teto.
— Ah, então é alguém que vive da palavra dos outros?
Blake fez um olhar surpreso para a moça e deu de ombros.
— Digamos que eu facilito a comunicação entre as pessoas que não falam a mesma língua.
A moça fez que entendia com um gesto de cabeça, bebericou o gim, passando a língua sob os lábios superiores. — Então veio pra cá para nada. Vai logo aprender que em Londrina só se fala uma língua.
— E qual seria?
A prostituta sorriu:
— Dinheiro.”



Trecho de "O Trovador", de Rodrigo Garcia Lopes (Record, 406 págs.)

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